Este é mais um artigo da nossa série de Guias da Estrada Real. O Caminho dos Diamantes foi o terceiro caminho estabelecido pela Coroa Portuguesa para controlar e facilitar o escoamento de mercadorias entre as Minas Gerais e o Rio de Janeiro, desta vez incluindo na rota oficial a cidade de Diamantina.
Neste guia, você encontrará informações relevantes e dicas para planejar a sua viagem pelo Caminho dos Diamantes e aproveitar ao máximo tudo o que a maior rota turística do Brasil tem a oferecer. Boa Viagem!
Leia mais: Como Planejar uma Viagem pela Estrada Real
O que é o Caminho dos Diamantes
O Caminho dos Diamantes é um dos quatro caminhos oficiais que compõem a rota turística da Estrada Real. Durante todo o trajeto, a rota segue acompanhada pela Serra do Espinhaço, vasta biodiversidade e patrimônios históricos que incluem até mesmo pinturas rupestres.
Percorrendo 395 km de extensão, é o terceiro caminho mais longo da rota, atrás do Caminho Velho (710 km) e Caminho Novo (515 km).
A história do Caminho dos Diamantes
No século XVIII, com a descoberta de diamantes na região mineira do Serro, a Estrada Real passou a conectar a cidade de Ouro Preto à Diamantina e este novo trecho se tornou também, a partir de 1729, passagem obrigatória para o transporte de mercadorias na região.
Como viajar pelo Caminho dos Diamantes – Dicas de Roteiro
Meios de Transporte
A ideia da Estrada Real é seguir exatamente o trajeto do Brasil Colônia e não as rodovias convencionais. Hoje em dia, muitos trechos da rota já são pavimentados, ainda assim, grande parte do caminho dos diamantes é feito em estrada de terra e é possível percorrer de carro, moto, cavalo, bicicleta e a pé.
Nós fizemos o caminho todo de carro em uma época com pouca chuva e não tivemos nenhum problema com lama e atolamentos. Optamos por uma SUV sem tração 4×4 (alugamos aqui). Apesar de não termos tido nenhuma dificuldade, muitas pessoas preferem a opção 4×4. Neste caso, a escolha fica a critério do viajante.
Mapas e GPS
O site do Instituto da Estrada Real disponibiliza mapas e planilhas com o trajeto detalhado. Além disso, existem totens por toda a rota para indicar se você está no caminho certo.
Também utilizamos os apps wikiloc e o maps.me, e foram ótimos! No maps.me, faça o download do mapa para uso offline e escolha sempre a rota da bicicleta, mesmo que esteja de carro. Desta maneira, é mais garantido ver a rota oficial pela estrada de terra em vez de cair em estradas pavimentadas.
Dica extra: Ambos os apps maps.me e wikiloc são úteis para descobrir trilhas e cachoeiras na região.
Por onde começar
Considerando as subidas e descidas, o sentido de Diamantina a Ouro Preto exige menos esforço físico e somente 26% do caminho é asfaltado, o que torna a viagem ainda mais interessante.
Nossa dica é começar em Diamantina e terminar em Ouro Preto. Se você mora ao sul de Diamantina, por exemplo em Belo Horizonte, pegue as rodovias BR-040/BR-135 e BR-259 e vá direto para Diamantina, onde será o seu ponto de partida.
Principais Cidades
As cidades mais visitadas no Caminho dos Diamantes são Diamantina, São Gonçalo do Rio das Pedras, Milho Verde, Serro, Conceição do Mato Dentro, Ipoema, Cocais, Santa Bárbara, Catas Altas, Mariana e Ouro Preto.
Cada local possui o seu próprio charme e oferece experiências únicas. Além de vilas e cidades históricas, não deixe de apreciar a natureza do percurso. A biodiversidade ao longo da Serra do Espinhaço, as dezenas de cachoeiras com trilhas na natureza e belezas naturais, fazem do Caminho dos Diamantes uma experiência inesquecível.
Gastronomia
De Diamantina a Ouro Preto, existe uma diversidade gastronômica incrível. Se deseja uma imersão cultural em pratos típicos locais, não lhe faltará opções.
Diamantina
- Mercado Velho (dos Tropeiros) – As noites de sábado se enriquecem com uma feira repleta de pratos típicos. Já pela manhã, encontrará diversas iguarias como requeijão de corte, doce de leite, café, cachaça, e mais. Normalmente tem música ao vivo.
- Vila do Biribiri – Almoce no Restaurante Raimundo sem Braço ou no Restaurante do Adilson. Além de pratos fartos e saborosos, o lugar é lindo com pequenas cachoeiras pelo caminho.
- Agora, se quer um prato autêntico, como por exemplo o Frango ao Molho Pardo, experimente a comida do Cantinho da Dona Dalva, você não irá se arrepender! Boa comida e boa conversa! Ah! Normalmente tem roda de samba aos domingos.
- Para um café da tarde com aquele bolinho de milho delicioso, faça uma parada no Café Mineiro.
São Gonçalo do Rio das Pedras
- Comidinha caseira é no Restaurante do Ademil. Lugar agradável, aproveite também para carimbar o seu passaporte da Estrada Real (mais sobre o passaporte a seguir).
Milho Verde
- Se você é daquele que busca aprender sobre a cultura local experimentando pratos típicos, não deixe de comer na Cozinha Quilombola.
- Na mesma linha, faça um lanche da tarde ou café da manhã com a melhor quitandeira da região, Dona Geralda, localizado em frente da Capela de Nossa Senhora do Rosário.
- Se busca uma café da manhã farto e uma comidinha caseira no fogão a lenha, a Pousada e Restaurante do Morais é a pedida certa.
- Para um espaço mais amplo e comida farta, visite o Restaurante Angu Duro.
Serro
Gosta de queijos? Então fique um pouquinho mais nesta região. Os queijos do Serro são produzidos a partir de leite cru e vendidos com diferentes tempos de maturação. A receita do Queijo do Serro é tombada como patrimônio imaterial e possui certificação de procedência que são indicações geográficas.
Mas, para visitar os produtores e conhecer mais de sua história, vá primeiro para a Associação dos Produtores Artesanais de Queijo do Serro (Apaqs) localizado na rodoviária antiga. Você será muito bem atendido e de lá poderá contactar os produtores para agendar uma visita.
Como sugestão, recomendamos visitar as seguintes lojinhas para degustação e compras e, se possível, agendar uma visita no produtor:
- Queijo Bom Sucesso, Produtor Adílson (Chokito);
- Trem-Ruá, Produtor Túlio Madureira;
- Queijo Maria Nunes, Produtora Christiane Brandão;
- Queijo do Cedro, Fazenda da Família Campos;
- Mercado da Cooper Serro (Cooperativa dos Produtores Rurais do Serro).
Você sabia? Serro foi o primeiro o município do Brasil a ser tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – IPHAN, em 1938.
Ipoema
Sede do Museu do Tropeiro e distrito de Itabira, a Capital Estadual do Tropeirismo. Ipoema é sinônimo de fogão a lenha e comida caseira. Segue algumas recomendações:
- Restaurante Cantinho da Serra;
- Restaurante Estrada do Rei.
Conheça a história do Feijão Tropeiro, o prato mais nômade do Brasil
Santa Bárbara
Famosa pela produção de mel e quitutes mineiros. Me lembro do pastel com leitinho queimado das padarias, açucarado e confortante. Se tiver interesse em conhecer a história da produção de mel local e comprar iguarias mineiras visite a Casa do Mel. Para uma refeição em lugar agradável com produtos de qualidade, visite a Queijaria Laviolla.
Catas Altas
O que faz Catas Altas ser um destino especial, é a sua proximidade com a Serra do Caraça e o Santuário do Caraça, um paraíso em terra mineira. O Santuário do Caraça é mais do que um destino de peregrinação, é uma reserva natural com imensa biodiversidade, sua estrutura oferece excelente acomodação, museu, biblioteca, e o mais interessante, uma oferta gastronômica incrível que fez parte do projeto de resgate da cultura alimentar mineira chamado de Primórdios da Cozinha Mineira. Mesmo que não se hospede no Caraça, não deixe de visitá-lo e vá com fome pois o almoço vale muito a pena.
A Festa do Vinho de Jabuticaba é um evento que ocorre todo ano na cidade de Catas Altas e mesmo se perder a festa, tente experimentar o tradicional vinho de jabuticaba, produzido de maneira artesanal desde 1949 e que segue firme até os dias de hoje.
Ouro Preto
A Gastronomia de Ouro Preto é um capítulo à parte. Apesar da cena mais turística, você encontra excelentes restaurantes, mercearias e cafés espalhados por toda a cidade, oferecendo desde o mais tradicional ao gourmet requintado. Mesmo nos restaurantes mais modernos, a essência da cozinha mineira estará sempre presente. São muitas as opções e o melhor de tudo, é difícil dar errado, portanto não se limite ao explorar a gastronomia de Ouro Preto. Segue algumas indicações:
- Lanchonete Garapinha – excelente para se perder entre queijos, doces e outras delícias da cozinha mineira.
- Restaurante o Passo, tem a pizza como carro chefe, porém se quiser sabor mineiro com modernidade vá para os petiscos. Caso queira uma refeição completa, o cardápio é estilo contemporâneo de excelente qualidade.
- Bar Barroco – um boteco muito frequentado por estudantes que ganhou fama pela sua coxinha, cerveja gelada e ambiente descolado;
- Tenente Pimenta Rock Bar – para uma noite mais agitada regada de drinks e cervejas variadas, bons petiscos e música;
- Café Geraes – localizado no centro de Ouro Preto, tem ambiente agradável, música ao vivo e um bem cardápio variado com muita comida boa. De quebra você estará no andar de cima de outro local para conhecer que é o Escadabaixo Bar Cozinha, basta descer as escadas.
Outra maravilha que Ouro Preto produz muito bem é cerveja. Para uma boa experiência etílica tente visitar a Loja da Fábrica Ouropretana. Parada obrigatória para os apreciadores de cerveja e bons petiscos.
Agora, se gosta de ir nas origens das tradições culinárias, faça um bate-volta até o distrito de São Bartolomeu para provar os famosos doces no tacho de cobre e conhecer a técnica de preparo da Goiabada Cascão, considerada Patrimônio Imaterial de Ouro Preto.
Cultura, Arte e História
No caminho dos diamantes, história é o que não falta. É possível acompanhar a evolução da arte e arquitetura brasileira através de vários patrimônios históricos que compõem o caminho, como igrejas, casas tradicionais, praças, obras públicas, exposições em museus e muito mais. Basta caminhar pelas ruas e praças para perceber a riqueza cultural e histórica dos municípios, vilas e distritos que compõem a rota turística.
Segue alguns exemplos:
- Casa de Chica da Silva – Diamantina
- Museu do Diamante – Diamantina
- Capela de Nossa Senhora do Rosário – Milho Verde
- Memorial e Museu sobre Carlos Drummond – Itabira
- Museu dos Tropeiros – Ipoema
- Matriz de Nossa Senhora da Conceição – Catas Altas
- Santuário do Caraça – Próximo de Catas Altas
- Basílica de Nossa Senhora do Pilar – Ouro Preto
- Museu do Aleijadinho – Ouro Preto
- Praça Tiradentes com o Museu da Inconfidência – Ouro Preto
Além disso, procure conhecer o trabalho das bordadeiras em Milho Verde, das quitandas mineiras, do artesanato com pedra sabão em Ouro Preto, e muitas outras tradições locais.
Bordados da Barra, Milho Verde, Minas Gerais Artesanato com Pedra Sabão, Ouro Preto, Minas Gerais
Na Natureza
Aqui as opções são quase infinitas. Minas Gerais é um paraíso de cachoeiras e belezas naturais, o trajeto é tão rico em biodiversidade que listamos somente alguns atrativos para se ter em mente quando planejar sua viagem pelo caminho dos diamantes.
- Serra do Espinhaço – para observar durante quase toda a viagem;
- Gruta do Salitre – Diamantina – preste atenção na acústica perfeita dessa gruta;
- Vegetação de Garimpo, é também usada na culinária – Diamantina;
- Sítio Arqueológico Pedra Pintada – Barão de Cocais – para ver as Pinturas Rupestres;
- Vila do Biribiri, onde recomendamos almoçar, fica no Parque Estadual do Biribiri, aberto diariamente, é possível passear pelo parque e nadar nas cachoeiras;
- Imperdível – Cachoeira do Tabuleiro (273 metros de queda, a mais alta de Minas Gerais e a terceira do Brasil), que fica no Parque Natural Estadual da Serra do Intendente (Conceição do Mato Dentro). O parque é um destino perfeito para quem busca ecoturismo e turismo de aventura, além de biólogos e pesquisadores devido a sua vasta biodiversidade e posição geográfica que transita entre a Mata Atlântica, Campos Rupestres e Cerrado. Se visitar, almoce no Restaurante Família;
- Serra do Caraça – a região do Santuário é cheia de trilhas e cachoeiras para serem exploradas;
- Parque Nacional das Sempre-Vivas, localizado na Serra do Espinhaço, uma das regiões mais biodiversas do Brasil. Além das Sempre-Vivas e inúmeras espécies de plantas e animais, abriga também nascentes do Rio São Francisco e Jequitinhonha. O Parque está em fase de ordenamento do uso público, por isso a visita é limitada e depende de autorização.
Santuário do Caraça Serra vista pelo caminho dos Diamantes Gruta do Salitre Pinturas Rupestre
Onde Ficar
Existem várias opções de pousadas no caminho dos diamantes e você pode tanto reservar com antecedência ou buscar por acomodações assim que chegar em seu destino, depende muito do seu estilo de viagem, da temporada e se está viajando sozinho, acompanhado, em grupo, etc.
Clique no nome da cidade para ver as opções de acomodação e preços.
- Diamantina
- São Gonçalo do Rio das Pedras
- Milho Verde
- Serro
- Conceição do Mato Dentro
- Ipoema
- Cocais
- Santa Bárbara
- Catas Altas
- Mariana
- Ouro Preto
Desvios além da rota
Se estiver com tempo, aproveite para dar uma escapada da rota oficial e conhecer alguns lugares adicionais.
Circuito Serra do Cipó
Localizada a 90 km de Belo Horizonte, o distrito da Serra do Cipó fica próximo ao Parque Nacional Serra do Cipó. A região possui um circuito turístico com várias opções de ecoturismo e turismo de aventura que abrange vários municípios incluindo Conceição do Mato Dentro onde fica a cachoeira do Tabuleiro.
Dica para os trilheiros: É possível fazer uma Travessia de 3 dias do Tabuleiro até Lapinha da Serra.
Itabirito
O município de Itabirito faz parte do Caminho Sabarabuçu e fica entre Ouro Preto e Belo Horizonte. Se possível, faça uma parada em Itabirito e experimente uma de suas mais famosas iguarias, o pastel de angu de itabirito.
Procure alguma das mantenedoras da receita que é reconhecida como patrimônio imaterial do município. Mais informações procure pelo Centro de Referências e Informações Turísticas de Itabirito.
Dona Nilda, uma das mantenedoras do Pastel de Angú de Itabirito
Ah! Não deixe de dar uma passada na Mercearia Paraopeba, uma das lojas mais inusitadas que você vai conhecer, praticamente uma viagem no tempo. Lá você vai encontrar todo o tipo de produto local, têm de tudo mesmo!
Passaporte da Estrada Real
O Instituto da Estrada Real oferece um passaporte para quem planeja viajar pelos caminhos da Estrada real. Com o passaporte, você carimba a sua passagem pelas principais cidades e ainda leva um certificado de conclusão.